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Botânica da Carnaúba (Copernicia Prunifera)

Classificação científica

Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Arecales
Família: Arecaceae
Género: Copernica
Espécie: C. prunifera
Nome binomial: Copernicia prunifera (Miller) H.E. Moore

O nome do gênero “Copernicia” é uma homenagem ao astrônomo italiano Copérnico que concluiu que a forma da terra era globosa, em alusão a essa forma apresentada pela copa da planta. As carnaúbas são plantas de grande beleza, tanto pelo porte como pela fronde.

Com alto potencial paisagístico, a carnaúba confere uma aparência distinta ao cenário local, devido a seu tamanho e ao fato de que elas crescem em aglomerados uniformes. Endêmica no semi-árido do nordeste brasileiro, árvore símbolo dos Estados do Piauí e Ceará, conhecida como árvore da vida. A carnaúba tem preferência por solos argilosos (pesados), aluviais (de margens de rios), suportando alagamento prolongado durante a época de chuvas. Resiste também a um elevado teor de salinidade, o que é comum nos solos aluviais da região da caatinga. Sua Copa de tonalidade verde levemente azulada em conseqüência da cera que recobre a lâmina, os carnaubais cumprem importantes funções para a manutenção do equilíbrio ecológico da região, como a conservação dos solos, fauna, cursos d'água e mananciais hídricos. Por tratar-se de uma planta adaptada ao clima semi-árido, a Carnaúba oferece possibilidades de atividades econômicas mesmo durante o período de estiagem, tratando-se, portanto de importante alternativa na composição da renda familiar das comunidades rurais, nas últimas décadas em virtude da desvalorização dos preços da cera vegetal, a Carnaúba voltou a ser alvo de desmatamentos para a introdução de outras atividades produtivas como a agricultura irrigada e a criação de camarão.

Alves et. al. (1987) descrevem que o estipe (tronco) apresenta-se cilíndrico, com diâmetro aproximado de 25 cm, sem ramificações, marcado por cicatrizes foliares transversais, deixadas pelas folhas que caem. Sua madeira é moderadamente pesada (densidade 0,94 g/cm3). Os pecíolos permanecem ligados ao estipe através da bainha, ocorrendo a desagregação após a morte e queda do limbo (folha).

BNB (1972) descreve que sob condições normais a carnaubeira aumenta os seus pecíolos (talo da folha) à medida que amadurece. Por ano, o estipe cresce trinta centímetros e produz em média 55 folhas em estágio completo por árvore. Após este período, as folhas caem naturalmente.
Dispõe de grande resistência e durabilidade.

Segundo Carvalho (1942) e Alves et. al. (1987) a base superior do estipe possui um meristema terminal envolvido por bainhas de folhas, e, no seu interior possui palmito comestível, que é/era utilizado como alimento e ração animal nos períodos de seca prolongada; são pilados até formar uma farinha ou goma. O corte do meristema leva à morte da palmeira.

Braga (1976) descreve as folhas como longamente pecioladas medindo em torno de 1,2 m de comprimento, com leques formados inclinados em volta do topo da palmeira; quando maduros, batem ao tronco e desprendem-se secos.

As folhas são originadas do broto a partir do meristema terminal e de acordo com Alves e Demattê (1987, p.13) podem ser divididas em três partes:

  • bainha - apresenta um prolongamento em forma de língua na parte superior, ficando um pedaço do pecíolo aderido ao estipe ao cair da folha.
  • pecíolo - é parte responsável pela ligação da bainha ao limbo.
  • limbo - Apresentam-se longos, retos e são pregueados, com fendilhamentos e apresentam-se palmadas ou flabeliformes (que lembram o aspecto de uma mão aberta ou um leque aberto).
Denterghem (apud ALVES et. al., 1987) denominou de “filoforo” o broto terminal que é popularmente conhecido por “olho”. Deste é extraído o pó branco, sendo bastante cobiçado, no entanto, não podem ser totalmente extraídas para não comprometer a vitalidade da planta. “Outra estrutura foliar, esta representada nos espinhos agudos que aparecem como ganchos laterais nos bordos dos pecíolos”. (ALVES op. cit., 1987, p. 15).

Esta é parte da carnaúba que dispõe de maior importância econômica, pois possui um sistema interno em suas folhas que produz a cera, formando película de proteção, caracterizando o xeromofismo descrito por Fernandes (1998), o que impede a planta perder água por evaporação nos períodos de estio.

Alves et. al. (1987) descrevem a inflorescência dessa palmeira, que apresenta numerosas flores, em cachos constituídos de um eixo central que possuem várias ramificações. Floresce principalmente durante os meses de julho-outubro. Em sua fase inicial, encontra-se protegido pela espada fechada que emerge no meio da folhagem. No período da floração, a espada abre-se dando passagem ao eixo floral, formando assim o espádice (cacho de frutos).

Segundo Lorenzi (1992, apud HOLANDA, 2006, p. 26) “Florescem durante os meses de junho a outubro, vindo a amadurecer seus frutos de novembro a março”. Os frutos podem ser ovóides ou globosos e de cor roxo-escura quando maduros, tem cerca de 1,5 cm de comprimento, com seus frutos amadurecendo de novembro a março. os frutos inteiros da carnaúba servem de alimento para aves, roedores e morcegos, animais de criação e na fabricação de doces. Os morcegos, além dos pássaros, são agentes dispersivos das sementes, contando também com a ajuda da água dos rios, que a leva em sua corrente para grande distância.

Braga (1976) descreve-os como uma baga arredondada de 2 cm e, quando maduros, apresentam-se de cor vermelho-escura com polpa esbranquiçada; tem sabor adocicado, caroço duríssimo, aglomeram-se na árvore em grandes cachos.

As sementes “são redondas envolvidos por todos os lados por uma massa enorme de tecido córneo, o albúmem, rico de matérias nutritivas que fornecem ao embrião as substâncias necessárias ao seu desenvolvimento.” (ALVES et. al. 1987, p. 25).

Alves et. al. (1987) descrevem que as raízes são fasciculadas, cilíndricas, espessadas, muito abundantes, com várias ramificações.

Outro fator importante a ser considerado, conforme Alves et. al. (1987, p.5), é que as raízes “desenvolvem-se de acordo com as condições físicas e da umidade do solo [...] em solos arenosos as raízes são compridas e menos ramificadas [...] solos argilosos, elas são curtas e muito ramificadas.”

Produtos da carnaúba (Copernicia prunifera)

Parte I- Fruto e Folhas

O fruto é usado na alimentação de animais, na fabricação de geléia, e a amêndoa quando torrada e moída, costuma até mesmo ser aproveitada localmente em substituição ao pó do café. Na obtenção de óleo, o óleo é de cor esverdinhada, funde-se à temperatura de 38° C. Suas amêndoas (sementes), a sua polpa, extraem-se uma espécie de farinha e um leite que, à semelhança do leite extraído do babaçu, pode substituir o leite do coco-da-bula.

A folha tem valor essencial para o artesanato, servindo para fabricação de uma ampla diversidade de produtos.

Chapéus, bolsas, tapetes, vassouras, sandálias, redes, mantas, tucum (fibra usada no artesanato) cordas, balaios, cestos, esteiras, cobertura de casas e abrigos, e inúmeros outros produtos que têm boa aceitação no mercado. Os talos dão gaiolas, cercas, cavalos de pau, estivas para passagem nos leitos arenosos dos rios secos, estrados de cama, portas e janelas semelhantes às venezianas. Quando verdes, a sua parte interna substitui a cortiça, na confecção de rolhas.

As folhas depois de secas se retiram a cera, é matéria prima básica para a fabricação de um grande número de produtos industriais.
Polidores: Utilizados na fabricação de ceras para polimento de automóveis, assoalhos, sapatos, moveis, frutas, e queijos finos.
Emulsão: Utilizado para proteção de frutas e flores.

  • Cosméticos: Cremes e batons.
  • Revestimento: Esmalte, verniz, cola, papel, bombons, goma de mascar e porcelanas.
  • Lubrificantes: Graxas e óleos finos.
  • Fundição: Isolantes e moldes.
  • Limpeza: Detergentes e aromatizantes.
  • Medicinais: Cápsula de comprimidos, álcool alifático (Triacantonol-TRIA) utilizada como poderoso inibidor da peroxidação dos lipídios, podendo exercer efeitos antiinflamatórios.
  • Adubo orgânico: A bagana (folha triturada) também se torna um adubo orgânico de boa qualidade porque, além de haver nutriente, têm capacidade de retenção da água, mantendo o solo úmido por período prolongado maior do que os adubos comuns, sendo importante em regiões com chuvas intermitentes. A bagana vem sendo utilizada como cobertura morta na projeção da copa das seguintes fruteiras: coqueiro, cajueiro, ateira, gravioleira, sapotizeiro, entre outras, com significativa economia de água de irrigação e capinas.
  • Outros produtos sem grupo: Velas, CDs, chips de computadores, tonners, códigos de barras, filmes plásticos e fotográficos.
E o produto mais recente da folha a ser descoberto, com um elevado valor econômico se usado corretamente e a fabricação de papel a partir da extração de celulose das folhas.

Parte II- Tronco

O seu troco é resistente e pode ser usada na construção de edificações rústicas e como lenha pesada. Inteiro, costuma ser usado como poste, cata vento, bancos. Fragmentado ou serrado, fornece ótimos caibros, barrotes, pontes, ripas e na marcenaria de artefatos torneados, tais como bengalas e objetos de uso doméstico. O seu caule ainda pode ser retirado o palmito.

Parte III- Raízes e sementes

As raízes quando queimadas liberam um sal utilizado pelos índios e sertanejos do passado; não se tem registro do seu uso atual na área de estudo.
Dispõem, ainda, de princípios medicinais que compõem medicamentos indicados pelo conhecimento popular, “são depurativas e diuréticas, usadas no tratamento de úlceras, erupções cutânea e outras manifestações como reumatismo e artritismo”. (BRAGA, 1976, p. 161).
As sementes têm uso medicinal como chá energético.

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo- IPT pesquisou 43 subprodutos nobres da carnaúba.